Globalização, Neoliberalismo e Cultura de massa e a "nova" tecnologia dos "de baixo"
Os defensores da globalização sempre são precisos em afirmar que ela tem o poder de libertar-nos do isolamento, livrar-nos da exclusão a que nos submete o protecionismo, tornando possível a livre interação entre pessoas e idéias diferentes e promovendo o respeito e o conhecimento entre as diferentes culturas. Uma “aldeia global” que proporciona maior prosperidade e bem-estar aos que nela engajam-se e torna-os, efetivamente, participantes do mundo.
Fica evidente nos textos de Ramonet e Milton Santos a precariedade desse conceito de globalização. O que eles já alertavam em suas críticas ao sistema dominante de globalização com fundo ideológico de mercado, consumo e o uso da comunicação de massa para os interesses das nações ricas ou soberanas, em detrimento aos anseios e clamores das classes sociais menos favorecidas, ganhou mais força após o “chamado colápso do globalização neoliberal”, especificamente a explosão da crise financeira, em 2008. Uma boa definição do que vem a ser o neoliberalismo com sua força no mercado financeiro mundial é do sociólogo Otavio Lanni, “ O neoliberalismo é a ideologia e a prática das forças sociais predominantes na globalização do capitalismo em curso no sentido de que as corporações, e as estruturas mundiais de poder que expressam principalmente os interesses das corporações, se impõem aos povos e às nações, em todo o mundo. Neoliberalismo, no sentido de um novo discurso sobre as maravilhas do mercado mundial compreendendo competitividade, produtividade, qualidade total e lucratividade,a despeito do agravamento das desigualdades sociais e da globalização da questão social. O neoliberalismo é o discurso da globalização pelo alto." (O. Lanni “Globalização e Neoliberalismo”)
Para Ignacio Ramonet, presente no encontro, “ a recente crise financeira internacional destroçou o que ainda restava do neoliberalismo e arrastou consigo boa parte da credibilidade e do poder dos grupos midiáticos, particularmente da imprensa escrita, em função da estreita aliança entre mídia e poder econômico. O tratamento dado pela mídia à crise não teria sido mais do que o reflexo de seu próprio desespero, pois toda crise capitalista tende a se refletir como uma crise nos meios de comunicação.” .
Nesse aspecto, concordo com Ramonet e Milton Santos, quanto a necessidade de se horizontalizar e democratizar a informação. Apesar de ainda incipiente, acredito na utilização das novas plataformas de comunicação para levar a sociedade a um novo paradígma de conhecimento e interação de suas dificuldades e anseios. As chamadas “novas mídias”, com o uso computador, do telefone celular, da troca de imagens, vídeos e textos, especialmente na comunicação em rede, (internet). Lembrando o texto de Ramonet: “´É possível nos dar conta de que os meios (evidentemente os pequenos) que fornecem informação séria , não ideológica, dados, fatos concretos, com referências, estes meios, “ por mais diferentes que sejam estão conquistando cada vez mais audiência. Não é novidade mais que com o telefone podemos usufruir e realizar as funções do computador. Se comunicar com alguém pelo computador (um bom exemplo é o Skype). Ou mesmo com um celular interagir, assistir a tv e até produzir fotos e vídeos para uma emissora e muitas outras possibilidades. É o universo da Internet”
No entanto, a internet, como alerta o Professor e Doutor em Ciências da Comunicação, Eugênio Bucci, na apresentação do livro “ Ciberespaço, Aluta pelo Conhecimento” (Sérgio A. da Silveira/ Dimas A. Künsh- Editora Salesiana-2008) “(...) se presidida unicamente pelos interesses corporativos e pelas atuais hierarquias rígidas, típicas dos Estados autoritários ou do modelo atual de comunicação de massa, pode virar um ambiente para o monitoramento das comunicações e enfraquecimento do indivíduo. Torna- se mais um instrumento a serviço de tiranias econômicas ou políticas e menos uma inovação capaz de emancipar as pessoas(...) quando o espírito de cooperação prevalece sobre a voracidade do dinheiro, quando os princípios dos direitos fundamentais sobrepujam os impulsos de controlar a vontade de opiniões alheias, aí sim, a Internet alcança a dimensão de um espaço verdadeiramente público, um canteiro fértil para a ampliação da liberdade”.
A democracia e o neoliberalismo definitivamente entraram em conflito.A jornalista e pesquisadora canadense, Naomi Klein, em entrevista à revista Cult em junho de 2008, contesta a alegação central da máquina da propaganda neoliberal, que procura identificar pessoas livres com o que se chama de mercado livre. Como Milton Santos, Naomi Klein também acredita nos movimentos populares, com destaque aos que vêem do campo e ou das periferias das grandes cidades como representações legítimas da insatisfação com os modelos de globalização que vivemos.
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