quinta-feira, 28 de julho de 2011

Uma Questão de Opinião!!!

Globalização, Neoliberalismo e Cultura de massa e a "nova" tecnologia dos "de baixo"

Os defensores da globalização sempre são precisos em afirmar que ela tem o poder de libertar-nos do isolamento, livrar-nos da exclusão a que nos submete o protecionismo, tornando possível a livre interação entre pessoas e idéias diferentes e promovendo o respeito e o conhecimento entre as diferentes culturas. Uma “aldeia global” que proporciona maior prosperidade e bem-estar aos que nela engajam-se e torna-os, efetivamente, participantes do mundo.
Fica evidente nos textos de Ramonet e Milton Santos a precariedade desse conceito de globalização. O que eles já alertavam em suas críticas ao sistema dominante de globalização com fundo ideológico de mercado, consumo e o uso da comunicação de massa para os interesses das nações ricas ou soberanas, em detrimento aos anseios e clamores das classes sociais menos favorecidas, ganhou mais força após o “chamado colápso do globalização neoliberal”, especificamente a explosão da crise financeira, em 2008. Uma boa definição do que vem a ser o neoliberalismo com sua força no mercado financeiro mundial é do sociólogo Otavio Lanni, “ O neoliberalismo é a ideologia e a prática das forças sociais predominantes na globalização do capitalismo em curso no sentido de que as corporações, e as estruturas mundiais de poder que expressam principalmente os interesses das corporações, se impõem aos povos e às nações, em todo o mundo. Neoliberalismo, no sentido de um novo discurso sobre as maravilhas do mercado mundial compreendendo competitividade, produtividade, qualidade total e lucratividade,a despeito do agravamento das desigualdades sociais e da globalização da questão social. O neoliberalismo é o discurso da globalização pelo alto." (O. Lanni “Globalização e Neoliberalismo”)

Uma crise que “derreteu” bilhares de dólares, aprofundou as desigualdades sociais , aumentou o desemprego, necessitou da intervenção dos bancos centrais e, consequentemente, diminuiu ainda mais os investimentos na área social de todos os países. . O que vemos é de um lado, especuladores e banqueiros alimentam-se da desordem mundial da globalização financeira. Do outro, trabalhadores em todo o planeta que arcam com custos dessa "economia de cassino".

As corporações midiáticas, apesar de acompanhar e noticiar esse desastre econômico mundial poderiam ter tido uma participação mais incisiva, promovendo debates e informações na reorganização e surgimento de novas alternativas de enfrentamento dessa situação. A farra das elites também não foi devidamente questionada. O comportamento da mídia na recente crise financeira internacional foi debatida na abertura do Fórum Mundial de Mídia Livre, no início de 2009, no Rio de Janeiro. Uma das conclusões dos participante foi que a chamada grande mídia não ofereceu explicações satisfatórias diante da crise, muito embora, durante anos, seus "especialistas" tenham se redobrado em esforços para legitimar o modelo neoliberal de globalização.

Para Ignacio Ramonet, presente no encontro, “ a recente crise financeira internacional destroçou o que ainda restava do neoliberalismo e arrastou consigo boa parte da credibilidade e do poder dos grupos midiáticos, particularmente da imprensa escrita, em função da estreita aliança entre mídia e poder econômico. O tratamento dado pela mídia à crise não teria sido mais do que o reflexo de seu próprio desespero, pois toda crise capitalista tende a se refletir como uma crise nos meios de comunicação.” .

No mesmo encontro, o jornalista Pascual Serrano, do site Rebelión, afirmou que “a mídia é um dos responsáveis pela recente crise internacional porque faz parte da estrutura financeira do modo de produção capitalista. A sociedade civil organizada sempre defendeu meios de controle sobre a economia, mas teria sido solenemente ignorada pela mídia tradicional, que estranhamente não ofereceu explicações satisfatórias diante da crise, muito embora seus “especialistas” tenham estado sempre de prontidão quando o caso era legitimar a economia capitalista. A estratégia escolhida pela mídia diante da crise, afirmou Serrano, foi a de “vitimização”, como se não existisse responsável algum pela bancarrota capitalista, mas somente vítimas”.
Nesse aspecto, concordo com Ramonet e Milton Santos, quanto a necessidade de se horizontalizar e democratizar a informação. Apesar de ainda incipiente, acredito na utilização das novas plataformas de comunicação para levar a sociedade a um novo paradígma de conhecimento e interação de suas dificuldades e anseios. As chamadas “novas mídias”, com o uso computador, do telefone celular, da troca de imagens, vídeos e textos, especialmente na comunicação em rede, (internet). Lembrando o texto de Ramonet: “´É possível nos dar conta de que os meios (evidentemente os pequenos) que fornecem informação séria , não ideológica, dados, fatos concretos, com referências, estes meios, “ por mais diferentes que sejam estão conquistando cada vez mais audiência. Não é novidade mais que com o telefone podemos usufruir e realizar as funções do computador. Se comunicar com alguém pelo computador (um bom exemplo é o Skype). Ou mesmo com um celular interagir, assistir a tv e até produzir fotos e vídeos para uma emissora e muitas outras possibilidades. É o universo da Internet”

Já há muitos exemplos de comunidades de pequenas cidades que produzem conteúdo sobre suas origens, cultura e dificuldades e disponibilizam esse material na internet ou em TVs públicas. No livro “ TV Digital e Produção Interativa: a comunidade manda notícias” (Fernando Crocomo, editora da UFSC, 2007-pag. 141) o autor apresenta um modelo para produção e envio de vídeos para permitir que o telespectador ou sua comunidade ( representada por uma escola, e/ou associação de bairro) possa participar da programação de uma emissora de TV, recebendo a programação normal e retornando informações, inclusive conteúdo em vídeo que também fica disponível na internet. O modelo faz uma associação entre o uso de equipamentos evoluídos tecnologicamente e a busca da produção de conteúdos de interesse da comunidade.

Exatamente como Milton Santos prevê em seu texto. As manifestações dos que vem “de baixo” podem se expandir ainda mais, num primeiro momento virtualmente e depois fisicamente e movimentos sociais.

No entanto, a internet, como alerta o Professor e Doutor em Ciências da Comunicação, Eugênio Bucci, na apresentação do livro “ Ciberespaço, Aluta pelo Conhecimento” (Sérgio A. da Silveira/ Dimas A. Künsh- Editora Salesiana-2008) “(...) se presidida unicamente pelos interesses corporativos e pelas atuais hierarquias rígidas, típicas dos Estados autoritários ou do modelo atual de comunicação de massa, pode virar um ambiente para o monitoramento das comunicações e enfraquecimento do indivíduo. Torna- se mais um instrumento a serviço de tiranias econômicas ou políticas e menos uma inovação capaz de emancipar as pessoas(...) quando o espírito de cooperação prevalece sobre a voracidade do dinheiro, quando os princípios dos direitos fundamentais sobrepujam os impulsos de controlar a vontade de opiniões alheias, aí sim, a Internet alcança a dimensão de um espaço verdadeiramente público, um canteiro fértil para a ampliação da liberdade”.

Uma novo caminho para uma globalização mais justa e humana deve sempre levar em conta as diretrizes da verdadeira democracia representativa dos cidadãos, com um verdadeiro engajamento político nas tomadas de decisões do que realmente importa para todas as classes sociais no planeta.

A democracia e o neoliberalismo definitivamente entraram em conflito.A jornalista e pesquisadora canadense, Naomi Klein, em entrevista à revista Cult em junho de 2008, contesta a alegação central da máquina da propaganda neoliberal, que procura identificar pessoas livres com o que se chama de mercado livre. Como Milton Santos, Naomi Klein também acredita nos movimentos populares, com destaque aos que vêem do campo e ou das periferias das grandes cidades como representações legítimas da insatisfação com os modelos de globalização que vivemos.

Para mim, as causas ambientais são uma das grandes forças motoras atuais para uma reorganização social planetária e tende a crescer na medida em que as pessoas, e a juventude futura, se organizarem em movimentos. O que unificará mais as sociedades é o futuro do próprio lugar onde vivemos. Pode parecer ingênua minha constatação, mas como qualquer ser vivo, o ser humano mais do que nunca precisará se guiar pelo instinto da sobrevivência.



Luiz Galvão

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