O Poder Midiático
O jornalista, sociólogo e diretor do periódico francês, Le Monde Diplomatic, Ignacio Ramonet, destaca logo no início do texto “ O Poder Midiático” ( in Denis de Moraes,(org);243) a extrema dificuldade, na atual conjectura da globalização neoliberal e, como consequência da chegada da Revolução Digital, de se estabelecer distinções nítidas entre o mundo da mídia, o mundo da comunicação, o mundo que poderíamos denominar cultura de massas e o mundo da pubicidade.
( A mistura entre jornalismo, a publicidade/propaganda e a cultura de massa)
O autor defende o estreitamento da distância entre esses setores comentando ao mesmo tempo, a distinção que existia antes, com certa autonomia nas esferas da comunicação, da informação e da cultura de massas. Argumenta que “ cada dia existem menos fronteiras entre esses setores e que há alguns anos atrás , no universo da comunicação em geral, podíamos distinguir essas três esferas autônomas e praticamente independentes.”
Uma outra esfera ele denomina de comunicação institucional, como a publicidade, a propaganda no sentido político da palavra.Um universo que, segundo ele, se desenvolveu enormemente. Para fundamentar essa argumentação, lembra e enfatiza que, mais do que nunca na atualidade, governos e as empresas comunicam, possuem jornais, rádios, têm porta-vozes midiáticos, têm estruturas de imprensa . Com isso, Ramonet pretende deixar claro que se torna cada vez mais difícil e complexo para o cidadão não identificar estes elementos como parte formadora do mundo da comunicação. A Publicidade é parte desse universo, do mundo da comunicação, como ostentação, aparato ideológico do sistema. È utilizada também como forma de propaganda política.
E, como terceira esfera, aquilo que conhecemos e chamamos em geral de cultura de massa, num sentido abrangente, como a “telenovela, os quadrinhos, a edição literária de massa, os livros de massa, o cinema de massa, o esporte, etc”.
(o fim da autonomia: o papel da revolução digital-mescla de texto/som/imagem)
Ao definir a comunicação nessas esferas, Ramonet tenta desvincular a idéia de que, nas palavras dele, “poderíamos, há dez anos, falar dos meios de comunicação como um universo fechado, com sua própria lógica, com sua própria dinâmica, autônomo em relação ao resto do universo da comunicação”. Para fundamentar essa posição, o autor afirma que hoje não é mais possível falar dos meios de comunicação como um universo fechado ou autônomo por causa da revolução digital. Hoje temos a possibilidade da mescla do texto, do som e da imagem. “Antes havia um universo do texto, um universo do som, um universo da imagem.” Atualmente podemos ter tudo isso em um só aparelho.
(fusão telefone/TV/computadores:mistura das funções:intenet)
A fusão na utilização das máquinas de comunicação como telefone, a televisão e o computador, além, é claro, da internet, nos faz pensar de forma global, inserindo esses diferentes universos num só contexto. Essas novas máquinas desenvolvidas nas últimas duas décadas da globalização permitem que possa se fazer da comunicação, cada vez mais, o que cada aparelho possibilitava em separado.“Já não há, portanto, o universo do escrito, o universo do som, o universo da imagem, tudo está misturado”.
Não é novidade mais que com o telefone podemos usufruir e realizar as funções do computador. Se comunicar com alguém pelo computador (um bom exemplo é o Skipe). Ou mesmo com um celular interagir, assistir a tv e até produzir fotos e vídeos para uma emissora e muitas outras possibilidades. Dessa forma, Ramonet fala em um outro universo da comunicação. É o universo da Internet.
Voltando às definições de esferas da comunicação, o autor faz uma conclusão: “ A internet não sabe distinguir entre texto, imagem e som, não sabe distinguir entre as três esferas das quais falamos. Na Internet existe esfera da informação, esfera da publicidade e esfera da cultura de massa. Na Internet há cada vez mais televisão, há cada vez mais informação, há cada vez mais publicidade; e não há diferença entre as três”.
As Megafusões
(presença do esporte: espetáculos)
Foi até natural, com a “explosão” da Internet e novas tecnologias de mídias, que surgissem firmas , empresas com vocação para administrar a fusão dessas três culturas, desses três universos ou esferas de comunicação diferentes. Como exemplo da formação de Megafusões, ou Conglomerados Midiáticos, Ramonet explica: “É significativo que no ano dois mil tenhamos assistido ao surgimento de megagrupos de comunicação, com a função do grupo líder da comunicação mundial, Time Warner, com a empresa líder da Internet, America On Line; uma empresa, antiga, a Time Warner, e uma empresa recente, a America On Line”. Era o surgimento da empresa de informação claramente com papel comercial.
Assim, Ramont afirma ser necessário refletir o que esse exemplo de Megafusão significa em termos de difusão:” quantos milhares de pessoas em todo o mundo têm relação com o grupo Time, com a revista Time, com o cinema Warner, com a televisão Warner ou com o canal a cabo Warner, ou ainda com a CNN, que faz parte do grupo, e, agora, com a AOL, que é um portal de entrada da internet para centenas de milhões de usuários pelo mundo afora.”
Não é novidade que as Megafusões de empresas de comunicação ganharam fôlego a partir de uma globalização neoliberal, especialmente àquelas sediadas em países como nos EUA, Europa e Japão. E o poder midiático serve como aparato ideológico desse sistema da atual globalização e que determina ou significa a padronização de idéias, de trabalho, de costumes, de cultura e entretenimento.
(poder midiático=segundo poder -primeiro poder (econômico/financeiro)
Para o diretor do Le Monde Diplomatique, no atual estágio neoliberal de globalização, onde o fluxo de capital atingiu recordes, o poder político fica subjulgado, ou nem exista, ao que ele chama de primeiro e segundo poder. O primeiro é o econômico/ financeiro o segundo, o poder midiático. Isto porque o poder de mercado e financeiro abastece e privilegia o poder midiático que, dessa forma, se transforma no verdadeiro aparato ou sustentáculo ideológico da globalização. Esse sistema, com o “peso midiático”, se perpetua e faz com que aceitemos em nossas mentes as regras da globalização. E o que a imprensa diz a televisão repete, a rádio repete, e não apenas nos noticiários, mas também nas ficções e o resultado é a apresentação de um modelo de vida que se deve representar.
A Informação Hoje
(mercantilização da informação não é sinônimo de educação para a cidadania ou busca de verdade)(informação “gratuita”: papel da publicidade: mídia vende consumidores)(instantaneísmo x jornalismo)
“No universo da informação, especificamente, esta característica também é encontrada”. O autor caracteriza a informação hoje de três maneiras: primeiro, como uma mercadoria, onde o discurso não tem a função de educar o cidadão, mas sim o objetivo comercial e do lucro.”Compra-se e vende-se informação com o objetivo de obter lucro”; a segunda característica é a de que a informação tende a alcançar o limite da aceleração e de sensações, sem a preocupação com a qualidade; “ Passamos de um mundo do jornalismo para um mundo do imediatismo, do instantaneísmo, não há tempo para estudar a informação. Ela é feita cada vez mais de impressões, de sensações”; e, como terceira característica, a tendência da comunicação cada vez mais gratuita. Se antes a empresa vendia informação ao cidadão, hoje ela vende consumidores aos seus anunciantes .”Quem paga a informação na realidade é a publicidade. Hoje uma empresa midiática vende consumidores a seus anunciantes (Nike, Ford, General Motors) o número de consumidores que possui. Essa é a relação dominante”.
(a questão dos contradiscursos) (dificuldade para atingir as massas- retórica das grandes empresas)
(contradiscurso: sedutor, não infantilizante, não dogmático)
Ele aponta que o discurso hoje é infantilizante “ porque possui uma retórica com as mesmas características, o mesmo espaço, a mesma rapidez e o mesmo estilo de dramatização na busca do riso.É um discurso dirigido para crianças, por isso infantilizante.” Os grupos de mídia se dirigem às massas que são planetárias, enquanto nós, muitas vezes, seguimos pensando o contradiscurso de forma demasiado local ou circunstancial. Aqui também existe uma diferença entre ilustrar aqueles que já sabem e dirigir-se a um público em geral” O discurso militante ou de contra informação não é suficientemente pedagógico ou não tem os critérios de sedução que lhes permitiriam competir com o discurso dominante.
Dentro desse raciocínio, o autor conclui que a característica do discurso das grandes empresas midiáticas é a retórica. Acrescenta que ao analisar o discurso da informação ou da publicidade ou da cultura de massas ele apresenta, retoricamente as mesmas características. “Em primeiro lugar, é um discurso rápido, não há efeitos longos; na imprensa, os artigos são cada vez mais curtos, as frases são breves, os títulos impactantes, como um modelo publicitário ou qualquer discurso da cultura de massa”. Nesse momento, Ramonet apresenta as características que fundamentam seu pensamento. “Primeira característica: a rapidez para evitar o tédio. Segunda característica: a simplicidade. A terceira: utilizar constantemente algo que poderíamos chamar de elementos de espetacularização, de dramatização”. Onde se justifica o riso no discurso publicitário, a euforia ou tragédia no do noticiário. Ou seja, expressar-se através de emoções. Portanto um discurso de massa que fala às crianças e, sendo assim, o que recebemos de maneira geral é um discurso infantilizante.
Ramonet finaliza a questão do contradiscurso sinalizando que não podemos fazer contra-informação com um discurso efetivamente infantilizante. Para ele a dificuldade está em construir um discurso de contra- informação com os mesmos requintes da mídia de massa, ou seja, com sedução e que não se dirija a uma pequena minoria, mas que possa dirigir-se também às massas, sem ser,” definitivamente um discurso doutrinário, dogmático, um discurso de pura retórica, artificial.”
O autor tenta esclarecer um pouco mais a definição do que ele chama de contradiscurso ao mencionar que a globalização também deixou o nível dos meios cada vez mais vulgar, mais medíocre, mais insatisfatório e, ao mesmo tempo, a própria globalização elevou o número ou o nível de pessoas educadas, pessoas que fizeram estudos secundários, que fizeram estudos superiores, sendo que em nenhum momento da história houve um nível educacional como o atual. O que ele chama de contradição social: aumento da educação e da vulgaridade na mídia. E explica: “ Portanto, enquanto o nível educacional sobe, o nível midiático desce. Chega um momento em que eles se cruzam e aparecem em nossas sociedades cada vez mais categorias sociais que se sentem insatisfeitas com este discurso infantilizante e que exigem ser tratadas como adultas, capazes de conhecer a verdade, capazes de distinguir e de tomar posição em função da verdade, seja qual for essa verdade”. Ele acredita que é possível a sociedade ser capaz de usar o poder de seletividade e da crítica. Ramonet fala em demanda pela verdade. E para isso acredita na evolução e crescimento de veículos alternativos.
Queremos a Verdade
(demanda pela verdade- veículos alternativos: crescimento Fórum Social- necessidade de saber comunicar a verdade)
"Não queremos um conto de fadas, queremos a verdade e diante da verdade, como cidadãos, estamos dispostos a assumir posições. Que não nos contem um conto de fadas como a Guerra do Golfo, da Guerra de Kosovo, sobre o Plano Colômbia.”
O autor sugere que é possível nos dar conta de que os meios (evidentemente os pequenos) que fornecem informação séria , não ideológica, dados, fatos concretos, com referências, estes meios, “ por mais diferentes que sejam estão conquistando cada vez mais audiência.
Fórum Social Pará - Brasil, 29 de maio de 2008
Como referência, Ramonet explica que o periódico que dirige, apesar de ser feito por poucas pessoas e com políticas de respeito ao cidadão e qualidade de conteúdo veio, aos poucos, conseguindo que o número de leitores se e multiplicasse e hoje conta com 15 edições em várias línguas. Diz o autor: “ É um pequeno e modesto exemplo diante de um grupo como a Time Warner, mas este exemplo modesto indica que há uma demanda, hoje em escala internacional. Poderíamos citar outros grupos ou outros meios, tanto no suporte impresso como no suporte rádio ou no suporte Internet, que estão fazendo uma informação que é, sensivelmente, aquela que permitiu o Fórum Social Mundial acontecesse, e que acontecesse com êxito que conhecemos. Segundo Ramonet, até foi possível, no plano midiático uma verdadeira queda-de-braço com Davos, onde se reúnem o que ele chama de patrões do mundo.
A Publicidade
(contaminação comercial (ideologia) da informação/espaços públicos- defesa da ecologia da informação)
Ramonet compara o discurso sobre a propaganda política em um estado autoritário, como no livro 1984, de Orwell, ao discurso que vivemos hoje: o discurso comercial. Para ele o discurso comercial é uma ideologia como outras, pode-se defendê-la ou não. “É um discurso puramente ideológico que trata de vender um modelo de vida que é um modelo de vida claramente ideológico.O intolerável é que nossa liberdade de cidadãos se veja constantemente limitada por esta agressão publicitária que sofremos quando estamos em contato com qualquer meio de comunicação ou simplesmente quando circulamos pela cidade, onde resta cada vez menos espaço público”.
No último parágrafo do texto, o autor diz ser necessário desenvolver uma defesa da ecologia da informação. Faz uma analogia entre o meio ambiente que está contaminado pelo uso de metais pesados decorrente de uma hiperindustrialização globalizada que produziu o desastre ambiental, com a contaminação da informação. “A informação está contaminada essencialmente por uma série de mentiras que podem ser factualmente demonstradas. É preciso descontaminá-la dessas mentiras, é preciso descontaminá-la de uma certa ideologia”. Todas as idéias podem ser defendidas, anunciadas, porém, como idéias e não como uma coisa natural. . A publicidade só atende interesses do consumismo, da utopia, da globalização Para Ramonet, mais importante ainda é a descontaminação de publicidade, como ideologia, no mundo que vivemos. ”E isso é óbvio”.
Por:
Luiz Galvão (02/2009)- Disciplina: Comunicação de Massa e Globalização na Cultura
Contemporânea.
RAMONET, Ignácio. O poder midiático in MORAES, Denis (org.): Por uma outra comunicação. Rio de Janeiro, RJ: Ed. Record, 2003.
Ignacio Ramonet Míguez (Redondela, 5 de maio de 1943) é um jornalista e sociólogo galego. Ramonet cresceu em Tânger. Estudou engenharia em Bordéus, Rabat e Paris.
Ex-aluno de Roland Barthes, é doutor em Semiologia pela École des hautes études en sciences sociales de Paris. Professor de Teoria da Comunicação da Universidade Denis Diderot (Paris VII) e professor associado das Universidades de São Petersburgo e Carlos III, em Madri, lecionou também nas universidades de Buenos Aires, Valência, Cuba, Porto Rico, Santo Domingo. É doutor honoris causa da Universidade de Santiago de Compostela, na Galiza, Espanha.Escreveu vários livros sobre geopolítica e crítica da comunicação mundial, nos quais relaciona os meio de comunicação com o projeto estratégico da globalização. Defende a inclusão da sociedade civil nos processos de construção de um outro mundo.
Trabalha na França desde 1972 e desde 1991 é diretor do periódico Le Monde Diplomatique. Dirige também a revista temática bimestral Manière de voir, de vocação pedagógica, voltada a estudantes de nível médio e universitários. Também colabora com o jornal espanhol El País e é consultor da Telesur, rede de televisão pan-latino-americana criada em 2005 na Venezuela, com o propósito de se contrapor à hegemonia das grandes redes privadas de TV, tais como CNN e Univisión.Em dezembro 1997 o editorial de Ramonet no Monde Diplomatique deu origem à organização altermundista ATTAC. Ramonet também esteve entre os promotores do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, para o qual propôs o slogan Um outro mundo é possível.
Foi um dos fundadores da ONG Media Watch Global, que atualmente preside, e da sua versão francesa (Observatoire français des médias).
Faz parte do comitê de patronos da coordenação francesa da Década da cultura de paz e não-violência, promovida pela ONU.
Nenhum comentário:
Postar um comentário