quinta-feira, 28 de julho de 2011

Por uma Outra Globalização - Milton Santos (análise)


Um dos pontos dos vários pontos em comum entre o texto de Ignacio Ramonet e o de Milton Santos, destaco, na sociedade globalizada, a circulação da informação gerida e manipulada pela mídia como parte dos grandes Conglomerados. Para Santos, ela é a criadora dos mitos e dos símbolos da base da globalização. Tudo funciona de acordo com as regras do Mercado. “Os grandes conglomerados não satisfeitos em controlar os demais ramos da economia, dominam também a comunicação, reforçando a ideologia de mercado e suas conseqüências”. A propaganda trabalha com para eliminar a esperança de mudança e, cada vez mais, induz ao consumismo.


“Há uma relação carnal entre o mundo da produção da notícia e o mundo da produção das coisas e das normas. A publicidade tem, hoje, uma penetração muito grande em todas as atividades, como na profissão médica, ou na educação. Hoje, propaga-se tudo, e a política é, em grande parte, subordinada às suas regras.”(Santos.p 40). As mídias nacionais se globalizam, não apenas pela “chatice e mesmice das fotografias e dos títulos, mas pelos protagonistas mais presentes.Falsificam –se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia nos dá, mas uma interpretação”. Com essa análise do autor é possível fazer um paralelo com a teoria do discurso infantilizante que Ramonet propõe.


Na mesma página 40, Santos associa a informação como fábulas quase que da mesma forma como Ramonet. “O fato de que a comunicação se tornou possível à escala do planeta, deixando saber o que se passa em qualquer lugar, permitiu que fosse cunhada a expressão, quando, na verdade, ao contrário do que se dá nas verdadeiras aldeias, ( ele se refere à idéia de Aldeia Global) é frequentemente mais fácil comunicar com quem está longe do que com o vizinho. Quando essa comunicação se faz, na realidade, ela se dá com a intermediação de objetos. A informação sobre o que acontece não vem da interação entre pessoas, mas do que é veiculado pela mídia, uma interpretação interessada, senão interesseira, dos fatos. “ Para ramonet, a grande mídia conta fábulas e só um novo caminho de interação com as novas plataformas tecnológicas de comunicação e democráticas entre comunidades e pessoas poderia reverter esse quadro.


Papel dos pobres na produção do presente e do futuro


Milton Santos acredita que a luta e mudança para um novo tempo,para uma nova globalização, está nas bases das ações dos movimentos comunitários e populares como em nova forma e meios de se fazer comunicação. Na realização de obras que servem ao outro, a alguém. Esclarece que é preciso distinguir, atualmente, papel dos pobres do presente entre o futuro de pobreza e miséria. “ A miséria acaba por ser a privação total, com o aniquilamento, ou quase, da pessoa. A pobreza é uma situação de carência, mas também de luta, um estado vivo, de vida ativa, em que a tomada de consciência é possível.”(página 132) Isso significa para Santos, que miseráveis são os que se confessam derrotados. Mas os pobres não se entregam. E dessa forma há combustível para a luta, para a mudança e descobrir a cada dia formas inéditas de trabalho. O enfrentamento e busca de remédios para as dificuldades. O sentimento de urgência como mais uma força motivadora do conhecimento. Com isso, o autor fala da socialidade urbana como um palco onde os atores, ao invés de serem protagonista em estratégias de sobrevivência ou de tragédias, na verdade se constituem a própria vida concreta da maioria das populações. “A cidade, pronta a enfrentar seu tempo a partir do seu espaço, cria e recria uma cultura com a cara do seu tempo e do seu espaço e de acordo ou em oposição aos “donos do tempo”, que são também os donos do espaço.”(p.132)


Num novo relacionamento e convivência com a necessidade e com o outro, Santos acredita que se elabora uma política, que chama a política dos de baixo , constituída a partis das suas visões do mundo e dos lugares. “Trata-se de uma política de novo tipo, que nada tem a ver com a política institucional. Esta última se funda na ideologia do crescimento, da globalização, etc. e é conduzida pelo cálculo dos partidos e das empresas. A política dos pobres é baseada no cotidiano vivido por todos, pobres e não pobres, e é alimentada pela simplkes necessidade de continuar existindo”. Nos lugares, uma e outra se encontram e confundem, daí a presença simultânea de comportamentos contraditórios, alimentados pela ideologia do consumo. Este ao serviço das forças socioeconômicas hegemônicas, também se entranha na vida dos pobres, suscitando neles expectativas e desejos que não podem contar.”(p.133). A desilusão das demandas não satisfeitas, o vizinho que prospera e o cotidiano contraditório pode motivar o despertar. E se houver uma brecha no sistema do mundo, do país e do lugar, a semente da inconformidade já estará plantada e “o passo seguinte é o seu florescimento em atitudes e, talvez , rebeldia.”


Novamente, como Ramonet, Santos define a questão da dificuldade de discursos. Neste caso mais específico, o dos movimento das massas que “nem sempre resultam de discursos claros e bem articulados, nem sempre se dão por meio de organizações conseqüentes e estruturadas.”


O autor difere as organizações e os movimentos estruturados do que é o próprio cotidiano, flexível de relações, adaptável às novas circunstâncias, sempre em movimento. Apesar de não descartar as organizações e movimentos como instrumento de agregação e multiplicação de forças a conquista dos resultados não daria conta de se cristalizar, nem encorajar a repetição de estratégicas e táticas. “ Os movimentos organizados devem imitar o cotidiano das pessoas, cuja flexibilidade e adaptabilidade lhes asseguram um autêntico pragmatismo existencial e constituem a sua riqueza e fonte principal de veracidade”. Santos acredita que a mudança provirá de um movimento de baixo para cima, tendo com atores fundamentais os principais países subdesenvolvidos e não os países ricos. Mas com a participação dos deserdados, dos pobres do indivíduo livre das ideologias neoliberais existentes. A demanda que vem dos de baixo é explosiva.
A escassez chega às classes médias.
Luiz Galvão (2009)  




Um comentário:

Anônimo disse...

Quem sao os donos do tempo e do espaço?