BOLSA-IMPRENSA
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Em sua permanente tentativa de desqualificar o governo Lula e suas ações, a imprensa cria expressões e adjetivos que de tanto serem repetidos viram argumentos fáceis para os críticos de plantão. Um exemplo é o uso da palavra bolsa antecedendo qualquer tipo de ação, preferencialmente negativa, em associação explícita ao Bolsa Família, principal programa social do governo.
A tentativa nada sutil é de associar a expressão a tudo que é ruim, eleitoreiro, clientelista, aproveitando alguns adjetivos lançados contra o programa. O Bolsa Família torna-se, assim, a matriz de uma série de “desvios”, que a imprensa passa a chamar de Bolsa Ditadura, Bolsa Fraude e outros.
Valendo-se da vulgarização do termo, poderíamos concluir que recente estudo do Banco Mundial, que classifica o Bolsa Família como programa exemplar a ser reproduzido em outros países, sugere a criação de um Bolsa Imprensa. Isto é, um programa financiado pelo governo destinado a esclarecer aos jornalistas o que parecem não compreender.
Ao analisar a cobertura de seis jornais brasileiros sobre o programa, desde 2001, incluindo aí programas de transferência de renda do governo Fernando Henrique Cardoso, o Banco Mundial concluiu que a imprensa nem sempre diferencia problemas causados por fraudes e irregularidades burocráticas dos gerados por desconhecimento de regras ou erros em formulários. Avaliam os técnicos do banco que isso dá aos leitores uma impressão equivocada sobre a natureza dos desafios do programa.
Para reparar tais percepções, os representantes do banco sugeriram ao ministério do Desenvolvimento Social “campanhas e cursos para que os jornalistas adotem os termos técnicos no tratamento das irregularidades dos programas”.
É difícil imaginar a imprensa brasileira com modéstia para aceitar tal proposição, considerando o processo sistemático de desqualificar o programa e o acompanhamento feito pelo governo. O estudo do Banco Mundial mostra a predileção da imprensa brasileira pelos desvios do Bolsa Família em detrimento de eventuais imperfeições. E acrescenta que as críticas ao programa aumentaram sensivelmente após 2003, quando começa o governo Lula. Durante o governo FHC, os relatos de fraudes e problemas de controle do programa ocupavam 10% das matérias e chegaram a 50% no governo Lula, em 2004.
Observa o documento do Banco Mundial que nos anos seguintes, com o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle, a porcentagem caiu pra menos de 26% dos artigos em 2006. Poderia-se dizer que a imprensa cumpriu seu papel, não fossem as tentativas de encontrar novas irregularidades, como o uso dos benefícios para comprar eletrodomésticos.
Além de representarem melhora de vida para os beneficiários, que não precisam permanecer condenados à indigência e ao trabalho braçal ad eternum, os eletrodomésticos, muitas vezes, também significam mais uma fonte de renda. A vice-presidente do Banco Mundial, Joy Phumaphi, que esteve em Brasília mês passado, não viu problema na destinação dos recursos dada pelos beneficiários e contou o caso de um grupo de órfãos que comprou uma tevê com o dinheiro que recebia de um programa social do governo de Botswana. Quando foram ver as crianças para estudar o caso, descobriram que elas cobravam ingressos da vizinhança para assistir TV e os mais velhos usavam a arrecadação para fazer cursos por correspondência.
A criatividade popular pode servir de exemplo para a imprensa, que deveria ir mais aos confins atingidos pelo Bolsa Família do que criticá-lo com base em dados estatísticos. A informação sobre a compra de eletrodomésticos partiu do IBGE e um terço das notícias sobre irregularidades do programa tem como fonte o próprio governo. Segundo o relatório do Banco Mundial, pouco mais de um quarto das notícias foram geradas por investigação da própria imprensa.
Reuters
Mair Pena neto
quinta-feira, 8 de maio de 2008
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