Mídia e Poder.Paixão e ódio.Glicerina pura.Objeto de profundo debate e renovação de pesquisas nas ciências da comunicação.De desejos megacorporativos, governos, políticos e instituições.E, claro, das ongs,dos movimentos dos sem terra, sem teto e tantos outros ativismos sociais.
E a Cleusa,que vem três vezes por semana trabalhar em casa e mora em Ferraz de Vasconcelos, ficou preocupada comigo quando me ouviu pensando alto sobre tudo isso..Achou que eu estava reclamando ou resmungando sozinho.Tentei dizer algo, sei lá..qualquer coisa só para acalmá-la.
Na verdade eu é que começei a pensar nela.Como milhões de brasileiros, ganha um salário mínimo, sustenta a família, mora longe do trabalho, não desfruta de ferramentas básicas sociais, etc.No entanto não é que a danada está por dentro de tudo quanto é lançamento de produtos tecnológicos como tv hdtv, celular 3G,iPod, bluetooth.. os computadores...Só espera os preços baixarem nas casas Bahia.
Achei legal, ela está bem informada.Uma receptora não alienada.Afinal, assim que tiver uma tv digital ou a tão esperada IPTV, um novo pc, um celular 3G com banda larga fazendo down e uploads, vai interagir com maior intensidade.Quem sabe fazendo inputs e outputs na cabeça de muita gente? Terá uma melhor condição ativa de receptor e talvez inverter, modificar, renovar e entrelaçar os conceitos sobre a influência dos meios de comunicação na formação da opinião pública .Poderá vir a ser ainda um receptor mais consciente e crítico.Uma vez que ela estará, como individuo e grupo, participando da elaboração de um novo canal bidirecional nos chamados meio, mensagem e transmissor.
Como bem definiu Humberto Eco em "Apocalípticos e Integrados", temos dois pólos antagônicos de críticas e aplausos a presença da mass media na sociedade.Na linha do "funcionalismo" norte-americano que entende que "estamos vivendo uma época de alargamento da área cultural... sem a precaução e não importando o fato de essa "cultura sair de baixo ou que venha prontinha, confeccionada,construída de cima para consumidores indefesos".Já na visão dos "frankfurtianos" a proliferação dos bens culturais através da comunicação de massa "representa a perda de valores essenciais das artes e da cultura e os conteúdos e produções tornam-se banais"
A Cleusa não tá nem aí.Vive a vida dela.Está com mais de quarenta anos e durante sua vida consumiu o que lhe foi oferecido pelos tradicionais veículos. O que chamamos de “convencional”, “manipulador”, e sem “opção cultural”.Mas tem suas opiniões.Odeia política e políticos.Sabe que a corrupção rola solta.Ama o seu Silvio Santos e ao mesmo tempo não larga a Globo.Assiste o que tem, ouve o que quer.Aliás, adora ver sua terra mostrada na tv.Um bom indício de que a multiprogramação pode oxigenar o cérebro dos menos favorecidos.Levando as esperadas opções de conteúdos, arte, cultura e educação a todo canto do país.
Suas raízes nordestinas ainda se embaralham com o caos urbano, mesmo morando tão longe do centro de modernidade e cultura dessa megalópole.No entanto, gosta de se reunir com os conterrâneos aos domingos, um churrasquinho e forró.
Ela não está confinada a um controle remoto. Ligar, desligar e zapiar meia dúzia de produções baratas.Nem se sente dominada, massificada.....
De certa forma ela interage com as informações, mesmo que cognitiva e subliminarmente.E tem suas reações.Diz que odeia certas cenas da novela da Globo, não gosta de “uns programinhas chatos da Cultura” e curte o telejornalismo de edição “chicote”, aqueles sensacionalistas com muita correria, armas e vítimas.Será ela uma vítima de um certo apresentador?Acho que não. Por mais que a arquitetura das grades de programação pode ser enfiada goela abaixo do receptor, mesmo assim ele tem o poder de decidir.Se ele gosta ou não nem o Ibope pode prever.Como saber se o receptor está realmente gostando ou se sentindo bem?Dá para entrar na cabeça dele?Era de se esperar que esse instituto criado para um tradicional modelo de negócios, esteja apanhando para decifrar e mapear audiências numa mídia cada vez mais convergente.
Conceitos e teorias científicas não se esgotam, pelo contrário, fomentam mais discórdias ou melhores resultados.Na "nova mídia" a antiga unidirecionalidade e a massificação ganham outras características redefinindo os conceitos de comunicação de massa.A Cleusa só tem o primário.Sabe ler pelo menos.Mas as informações que ela recebe no display dentro do ônibus, na estação da CPTM( display em infravermelho, custa milhões de reais para os desvalidos ficarem de boca aberta e olhos esbugalhados na estação), na tv aberta, rádio e na revista ti ti ti, a remetem para um mundo lúdico, imediato, digitalizado, tudo passa por um desejo tecnológico e encantado.Informações digitais que subvertem o seu real desejo de consumir ás necessidades básicas.Seus arco-íris de soluções lhe enchem os olhos de sonhos.E dai se ela está sendo manipulada ou não.
A expressão mais forte na mídia atualmente não é conteúdo e sim modelo de negócios. A discussão sobre o poder de manipulação, persuasão e objetivos que visam ao lucro indiscriminado,ou a influência do governo não deve se esgotar nem mesmo sob a ótica dos visionários do futuro da internet e sua capacidade colaborativa de organizar uma nova democratização social e diminuição da desigualdade social planetária.
Para o cientista Artur Matuck, da USP existem quatro direitos fundamentais da comunicação.Estabelecido o diálogo entre o emissor e receptor, ainda assim existirão desafios para instituir..¨o direito de ser informado, o direito de informar e transmitir, o direito de não ser estimulado e o direito de não se manifestar.Cabe aos indivíduos, comunidades, estimular uma mudança cultural na relação entre emissores e receptores, bem como ao governo brasileiro democratizar a radiodifusão com a entrada de novos atores”.
O grande problema que se coloca, principalmente no Brasil, diz respeito ao baixo nível educacional, aos oligopólios e instituições ligados ao governo, falta de políticas que façam a sociedade se tornar mais ativa e participante das decisões emergentes na telecomunicação atual.Mídia e poder na Índia também alfabetiza as mais longínquoas aldeias do país através do celular distribuído gratuitamente.Um outro exemplo de mobilização aconteceu no sudoeste asiático.O governo preparava um golpe contra o impeachment numa sessão no parlamento.A população imediatamente se organizou em frente ao prédio apenas com mensagens entre celulares indicando o endereço para o ato de protesto.
Bem, voltando ao Brasil,durante todo o ano de 2007 não houve quorum para deliberações nem nomeações para compor o Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, Conselho Consultivo da Anatel e Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação da Câmara.Grupos criados para para permitir a participação da sociedade na discussão de temas associados à comunicação e às telecomunicações.Não vi essa notícia na mass media.Nem a Cleusa.
quinta-feira, 20 de março de 2008
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Um comentário:
Gostei bastante da postagem.
A cleusa me lembrou um pouco a personagem de clarice lispector em " a hora da estrela ".
Jornalismo literário... gosto de ler assim. É mais fácil de engolir, de entender e de poder gerar uma reflexão e discussão, e formar assim o pensamento. É como uma conversa com o leitor, é gostoso de ler e tem uma grande mensagem ^^
Muito bom, =) estou continuando a ler as postagens =D
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