A TV digital já está entre nós. Mas quem aguardava ansiosamente pela TV interativa ainda vai precisar esperar até que o padrão brasileiro Ginga esteja bem sedimentado. De toda forma, quando os botões coloridos de nossos novos controles remotos passarem realmente a serem úteis, muita gente vai ficar frustrada. Em tempos de Web 2.0 e de redes sociais na internet, a escolha entre 4 alternativas em canais televisivos vai parecer muito pouco. Sim, pode ser útil encontrar um link para se comprar os óculos usados pelo ator principal do filme ou votar na matéria do Fantástico da semana que vem. Por outro lado, quem sonhava em debater uma reportagem com o William Bonner durante a exibição do telejornal vai precisar se resignar com o fato de que a televisão vai continuar basicamente monológica. Mas sejamos sinceros, quem quer ficar discutindo programas de TV através dos canais televisivos? Como a TV é fundamentalmente um meio massivo, podemos inferir que conversação e massa são termos que se opõem. A massa não conversa, não pode se encontrar e debater.
Já os serviços da Web 2.0 são projetados para fomentar a produção colaborativa. Já não queremos mais apenas navegar por entre links previamente definidos — uma interação simplesmente reativa. Queremos intervir, transformar, construir conjuntamente, debater (o que chamo de interação mútua). Por mais que minha TV LCD esteja hoje ligada diretamente na internet, o que encontro é uma nova forma de seleção de conteúdos. A essência da TV é a transmissão. Os vídeos por demanda que hoje são oferecidos prolongam essa lógica. Tão logo eu requeira uma informação, ela me é transmitida linearmente. A votação em um programa “interativo” pode parecer uma revolução há muito aguardada. Mesmo assim, seu objetivo final é a definição do pacote que será enviado a todos os telespectadores. Portanto, precisamos reconhecer: a televisão é um meio muito ruim para o diálogo. Computadores, em suas múltiplas formas e tamanhos, oferecem recursos melhores, mais rápidos e com melhor usabilidade para aquele fim. Em sentido contrário, a televisão ainda parece ser o melhor meio para... assistir televisão! A tela grande, a qualidade da imagem e a nova razão de aspecto (16:9) das novas TVs vieram atualizar a experiência televisiva. Como então combinar esses dois mundos?É aí que entra a combinação da TV com o Twitter. Cada vez mais testemunhamos pessoas discutindo no Twitter os programas que estão assistindo. Um notebook no colo ou um smartphone na mão abrem a porta para a interação conversacional. Quer reclamar do juiz que não marcou o pênalti, debater uma matéria do telejornal ou criticar o apresentador do programa de auditório? Envie uma mensagem para o Twitter. Se um amigo seu estiver assistindo o mesmo programa, é possível que vocês iniciem um diálogo que conjugue o espaço televisivo e a twittosfera! Confesso que várias vezes já liguei a TV para assistir ao programa que estava sendo comentado por outros twitteiros. E, logo depois, já estava escrevendo sobre o que via. Creio que os comentários e tags criadas durante o Big Brother (BBB 10) é um dos principais exemplos nacionais desse tipo de procedimento. Mesmo assim, testemunhamos todos os dias as pessoas discutindo no Twitter a novela, o Fantástico, jogos e até filmes.
Claro, esse não é um comportamento de todo assinante do Twitter. De toda forma, mostra uma vontade de interagir, de pensar juntos o que está sendo visto. Esse telespectador/twitteiro nos mostra que a televisão continua sendo uma opção de entretenimento. Por outro lado, não aceita mais a cômoda posição no sofá. Além de consumir o produto televisivo, ele quer ressignificar os conteúdos que recebe. Quer compartilhar suas opiniões e escutar o que os outros tem a dizer. Não o ruído de toda a massa, mas sim o que pensam os participantes de suas comunidades.
Este é certamente um breve estágio na experiência televisiva interativa. Mas nos mostra que a demanda existe. Resta observarmos que interfaces serão desenvolvidas para viabilizar a interação desses agitados telespectadores
Alex Primo
quinta-feira, 29 de abril de 2010
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