segunda-feira, 18 de outubro de 2010

As startups de Balzac e o fim da era “cada um no seu quadrado”

TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO

No papel, todas as palavras bem articuladas fazem sentido. Tecnologia e Comunicação formam um binômio quase imbatível nessa máxima quando colocadas lado a lado em um texto. Chamam a atenção.
Entretanto, dentro de uma empresa, no seu cotidiano de desafios, esses assuntos são tratados e trabalhados como se fossem água e óleo, ou seja, elementos que não se misturam.
São culturas que pensam que são diferentes. Uma oriunda das ciências ditas “ mais duras” e outra das Ciências Sociais Aplicadas. Entretanto, o físico e novelista inglês, Charles Percy Snow, em 1959 no seu livro seminal “The Two Cultures”, demonstrou que essa divisão é prejudicial à construção do conhecimento e não existem razões estruturantes para existir.
Se verificarmos o desenvolvimento das Tecnologias de Informação, indo até as suas raízes, encontraremos nomes como do alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646 – 1716), considerado o “o pai da TI”. Filósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário, Leibniz tinha habilidades nas áreas da metafísica, literatura, política, lógica, história entre outras.
Balzac, o hacker journalist


Com relação mais estreita com a comunicação, a brilhante trajetória literária e intelectual do pensador francês Honoré de Balzac (1799-1850), possui um lado que poucos conhecem.
Autor do célebre livro “Ilusões Perdidas”, que especialistas sobre o autor afirmam ser autobiográfico, Balzac narra a história do poeta Lucien de Rubempré, que faz carreira como jornalista em Paris, obtendo rápido sucesso e, também com velocidade, cai em desgraça devido ao jogo da imprensa da época.


Porém, o que pouco se diz é que Balzac era proprietário de uma editora e nela também exercia o ofício de tipógrafo. Ou seja, se fosse nos dias atuais, talvez Balzac teria uma start-up e seria um hacker journalist, devido ao seu entendimento e cruzamento técnico sobre as duas áreas do conhecimento humano.
Mas, quando pensamos na dificuldade de encontrar profissionais que cruzem essas áreas com competência e sabedoria, John Brockman lança 1995 o livro “The third culture”. Nele, Brockman sobe nos ombros de C.P. Snow e coloca mais uma camada da multidisplinariedade: as ciências biológicas. Hoje, vemos estudos e pesquisas na área da neurociência computacional, máquinas semióticas, web semântica etc.

Laboratório de mídia


Em algumas conversas com editores da mídia digital brasileira, enfatizo a necessidade de essas empresas investirem em laboratórios que integrem esses tipos de conhecimento e que dali possam surgir soluções inteligentes em sintonia com a necessidade informativa da sociedade conectada, que, de um modo ou de outro, já experimenta os resultados desses avanços desde Leibniz.
Mas a resposta é quase a mesma: falta de cultura dos empresários para entenderem que um laboratório desses é importante para possuir e construir o diferencial competitivo.
Vejamos o New York Times, que investe tanto em tecnologia nos seus produtos digitais conectados. O temor da “Bíblia do Jornalismo” não são os seus tradicionais concorrentes no mundo analógico que também migraram para a esfera digital, mas os milhares exemplos de startups que surgem nos EUA e que vão comendo fatias pequeninas do seu escopo de negócio.
Para fazer frente a esse tipo de ameaça, o NY Times formou equipes multidisciplinares que lhe garantem a permanência no jogo da nova economia digital.
Com uma estratégia mais agressiva, pois já nasceu nesse universo, o Google busca dentro das universidades esse tipo de perfil multidisciplinar. Como brinco, de um dia para ou outro, pesquisadores são “abduzidos” e começam a trabalhar na grande nave-mãe dos sistemas de relevância da informação.


Áreas relacionadas


Portanto, os “labels” Tecnologia e Comunicação são mais que quadradinhos de conhecimento. Eles fazem parte da realidade de forma estruturalmente relacionada.
Vistos assim e trabalhados sinergicamente dentro das empresas, elas conseguirão obter melhores resultados nos sistemas estruturados por TI e que necessitam de plataformas e conteúdo adequados ao seu público consumidor ou colaboradores.

IDGNOW

Waltet T. Lima
Pós-doutor Tecnologia e Comunicação. Docente do Programa de Pós-graduação da Cásper Líbero. Membro titular do Núcleo de Ciência Cognitiva da USP. Um dos pioneiros em conteúdo jornalístico na Web brasileira.